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As epidemias de influenza são um problema de saúde pública mundialmente e representam uma carga significativa no sistema de saúde brasileiro e na sociedade, com uma estimativa de casos de síndrome gripal de 83 milhões em um único ano. A vacina contra a influenza é a forma mais eficiente de prevenir a doença e suas consequências.1
No Brasil, a vacinação contra influenza começou em 1999, priorizando idosos acima dos 65 anos e gradativamente expandiu está população, abrangendo diversas faixas etárias e pacientes com comorbidades associadas. Autoridades públicas de saúde têm expandido progressivamente as recomendações para a vacinação contra a gripe, particularmente para população pediátrica. Nos últimos anos, as vacinas têm sido criticadas pela variabilidade de sua eficácia, parcialmente relacionada à incompatibilidade entre as cepas de vacinas recomendadas pela OMS anualmente, e pelas cepas de influenza B que circulam durante a temporada de influenza. As vacinas TIV contém duas cepas de influenza A (H1N1 e H3N2) e apenas uma cepa de influenza B (B/Victoria ou B/Yamagata) recomendadas pela OMS. Para mitigar esta questão, vacinas contra a gripe QIV foram desenvolvidas. Elas contêm 2 cepas A (H1N1 e H3N2) e 2 cepas B (B/Victoria e B/Yamagata).1
No Brasil, os benefícios econômicos em saúde pública da vacina QIV foram demonstrados utilizando várias metodologias, mas confiando-se em um modelo estático; portanto sem contabilizar o impacto indireto da vacinação. O propósito das análises aqui descritas é avaliar o valor econômico em saúde pública da substituição da vacina TIV para a vacina QIV na população pediátrica de 06 meses a 5 anos, no Brasil, utilizando-se um modelo epidemiológico dinâmico, capaz de considerar o impacto indireto da vacinação. As incidências simuladas são consistentes com as estimativas da OMS.
Essa análise mostra que a substituição para QIV evitaria, aproximadamente, 406.600 casos de influenza B sintomáticos, 11.300 hospitalizações e, aproximadamente, 400 mortes anuais, o que poderia ser traduzido em, 3.400 anos de vida salvos. Quanto aos custos, as perdas de produtividade evitadas representam quase a metade do custo da vacinação.
Analisou-se também a sensibilidade na cobertura da faixa pediátrica de 6 meses a 5 anos. Variando-se a cobertura vacinal de 50 a 100% aumentaria-se o número de casos evitados anualmente de 288.60 a 509.860 (Figura 1).
Figura 1 - Análise de sensibilidade na taxa de cobertura1

Com base no contexto epidemiológico da influenza no Brasil durante o período de 2011-2017, substituindo-se a vacina TIV para a vacina QIV na faixa etária de crianças de 6 meses a 5 anos, pode se obter um forte impacto na saúde pública, sendo uma estratégia custo-efetiva do ponto de vista do pagador público, tendo um impacto benéfico ainda maior na perspectiva social. A análise demonstra que melhorar as taxas de cobertura e a eficácia da vacina utilizando-se vacinas que protegem contra linhagens B co-circulantes são estratégias complementares, que poderiam aumentar os benefícios potenciais de saúde pública para o Brasil.1
Figura 2 - Análise de sensibilidade probabilística. Os resultados de 1000 iterações do modelo são exibidos em um quadrante onde o eixo vertical representa o custo incremental em R$ e o eixo horizontal representa os anos de vida ganhos. As linhas verdes tracejadas e simples representam taxas de custo-efetividade de uma e três vezes o PIB per capita por ano de vida ganho, respectivamente.1

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Crépey P et al.
Impact of quadrivalent influenza vaccines in Brazil: a cost-effectiveness analysis using an influenza transmission model.
BMC Public Health 2020; 20: 1374 - https://doi.org/10.1186/s12889-020-09409-7
Referências