Diversos vírus podem causar um quadro gripal, entre eles o influenza e o SARS-CoV-2, ambos com a capacidade de gerar surtos e pandemias, além de serem causa de muitas hospitalizações e mortes. Felizmente, contra eles existem vacinas! A vacinação anual contra a influenza é uma prioridade mundial recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e reduz as chances de um indivíduo adoecer, ser hospitalizado e morrer em decorrência da influenza.1 Dada essa importância, alguns mitos sobre a influenza e sua vacinação precisam ser desbancados

Mito: A influenza não é uma doença grave, então a vacinação é desnecessária

Fato: A influenza pode parecer um simples resfriado, mas não é. Estima-se que as epidemias anuais da influenza resultem em cerca de 3 a 5 milhões de casos de doença grave e de 290.000 a 650.000 mortes.3 Como ocorre com a COVID-19, a maioria (mas não todos!) dos casos graves, hospitalizações e mortes ocorre nos chamados grupos de risco: crianças menores de 6 anos de idade, idosos, gestantes, pessoas com doenças crônicas, entre outros.4 As sinusites e infecções de ouvido são exemplos das complicações moderadas da influenza, mas algumas complicações podem ser potencialmente fatais. Entre elas estão a pneumonia, miocardite, encefalite, miosite, rabdomiólise, sepse, insuficiência respiratória e insuficiência renal.5 (Figura 1) A influenza aindapode exacerbar condições crônicas como a asma, doença pulmonar obstrutiva crônica e diabetes, além de ser gatilho para impactos extrarrespiratórios: efeitos cardiovasculares e neurológicos, possibilidade de coinfecções ou infecções secundárias e declínio funcional.6

Mito: A própria vacina pode causar influenza

Fato:A vacina não contém o vírus vivo, apenas proteínas de diferentes cepas do vírus influenza capazes de gerar proteção, mas não a doença.7 Sintomas leves, como febre e dores no corpo, são reações do sistema imune que podem acontecer com qualquer vacina e desaparecem em um ou dois dias.8

Mito:A vacina pode causar eventos adversos graves

Fato:A vacina da influenza é muito segura. Manifestações locais como dor, vermelhidão e endurecimento ocorrem em 15% a 20% dos vacinados e costumam ser leves e desaparecer em até 48 horas. Manifestações sistêmicas, como febre, mal-estar e dor muscular, acometem 1% a 2% dos vacinados e também são leves e breves. Têm início de 6 a 12 horas após a vacinação e persistem por um a dois dias, sendo mais comuns na primeira vez em que a vacina é tomada. Reações alérgicas graves (anafiláticas) podem ocorrer, mas são raríssimas.7,9 Em raras ocasiões, a síndrome de Guillain-Barré (SGB) coincidiu com a aplicação de uma vacina – nesses casos, ela surgiu entre um dia e seis semanas após a vacinação. No entanto, a SGB pode estar relacionada a diferentes causas. Estudos sobre a relação de causa e efeito entre vacinas influenza e SGB obtiveram resultados contraditórios, alguns encontrando essa relação e outros não. Até hoje não se sabe se a vacina influenza pode aumentar, de fato, o risco de recorrência da SGB em indivíduos que já tiveram essa síndrome. No entanto, é importante citar que o próprio vírus influenza pode desencadear a SGB e que a frequência de um caso por milhão de doses administradas, encontrada em alguns estudos, é muito menor que o risco de complicações da influenza, que podem ser prevenidas pela imunização.9

Mito:Peguei gripe, portanto a vacina não funciona

Fato:Na mesma época em que o vírus influenza circula, diversos outros vírus respiratórios também circulam, e seus sintomas podem coincidir. Além disso, a vacina precisa de pelo menos 10 a 14 dias para gerar a proteção contra a influenza, portanto, se a pessoa foi vacinada e já estava com o vírus ou o contraiu antes desse período, ela adoecerá. Mas a vacina não é 100% eficaz, no entanto pessoas vacinadas têm chances reduzidas de adoecer e, principalmente, de apresentar quadros graves, de precisar de hospitalização ou de morrer.8

Mito: A vacinação contra a COVID-19 funciona para prevenir a influenza

Fato: As vacinas contra a COVID-19 não previnem a influenza, pois os vírus que causam essas doenças são diferentes e, portanto, necessitam de vacinas diferentes. É importante saber que as duas vacinas podem ser administradas juntas.2 O OMS afirma que a cocirculação do vírus da COVID-19 e suas variantes e do vírus influenza pode colocar grupos vulneráveis em risco de doença grave e morte, além de aumentar a pressão em hospitais e a carga de trabalho para os profissionais de saúde. A fim de evitar o fardo dessa cocirculação, as vacinas contra a influenza e a COVID-19 são a ferramenta mais efetiva, devendo ser administradas concomitantemente sempre que possível.10

Mito:A influenza afeta apenas grupos vulneráveis, como os idosos

Fato: Qualquer pessoa pode apresentar um quadro grave de influenza. No entanto, o risco de hospitalização e óbito pela doença é maior entre aqueles com fatores de risco (idosos, crianças com menos de 6 anos de idade, gestantes ou que apresentem doenças crônicas). No Brasil, em 2019, por exemplo, dentre os indivíduos que evoluíram ao óbito, a mediana da idade foi de 55 anos, variando de 0 a 100 anos, e 73,8% apresentaram pelo menos um fator de risco, com destaque para adultos com 60 ou mais anos, cardiopatas, com diabetes mellitus e pneumopatas.11 Por isso, a Campanha de Vacinação do Ministério da Saúde (MS) inclui esses grupos. No entanto, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) recomenda que, sempre que possível, todos sejam vacinados. A vacinação anual contra a influenza é prioridade da OMS e do MS no Brasil.4,12,13 Essa estratégia aumenta a proteção contra o vírus influenza, prevenindo a doença e reduzindo a transmissão do vírus para populações vulneráveis.8 Para os grupos de maior risco, significa a prevenção de hospitalizações, complicações e mortes. Nos EUA, por exemplo, na temporada de 2017-2018, a vacinação evitou cerca de 7 milhões de infecções, 109.000 hospitalizações e 8.000 mortes relacionadas à gripe causada pelo vírus influenza.4 Estima-se que, no mundo, entre 70% e 85% das mortes relacionadas à gripe causada pelo vírus influenza, nos últimos anos, ocorreram em populações com 65 anos de idade ou mais, assim como 50% a 70% das hospitalizações relacionadas à doença.2 Dessa forma, há recomendações internacionais para o uso de vacinas de alta concentração (maior potência) para essa faixa etária de maior risco.14 A qualidade, a quantidade e a consistência das evidências clínicas para as vacinas de alta concentração têm sido reconhecidas por órgãos governamentais independentes, sociedades médicas e grupos de especialistas.

A vacinação anual contra a influenza é uma prioridade mundial recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e reduz as chances de um indivíduo adoecer, ser hospitalizado e morrer em decorrência desse vírus. Nesse contexto, alguns mitos sobre a influenza foram esclarecidos pela Dra. Isabella Ballalai, nesse conteúdo elaborado de forma prática e didática.

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