ARTIGO
Doenças infecciosas ou transmissíveis em bebês e crianças: o que são e como preveni-las?
Publicado
Mar/2022
18 min
As crianças são muito suscetíveis às doenças e isso ocorre porque o sistema imunológico ainda não está totalmente desenvolvido. Por isso, essas doenças são chamadas de doenças infantis ou doenças da infância, que se desenvolvem quando o sistema imunológico ainda não é capaz de combatê-las.1
O Sistema Único de Saúde (SUS) tem um cuidado especial com as doenças infantis, tanto que lança com regularidade as atualizações da Caderneta da Criança, dividida em duas versões: uma para menino e outra para menina. Nela, os pais conseguem acompanhar o desenvolvimento dos filhos e recebem informações importantes sobre os cuidados desde os primeiros dias de vida.2
No livreto, é possível ver se a criança está se desenvolvendo dentro dos padrões recomendados pelas organizações de saúde. E um dos capítulos fundamentais desse acompanhamento é justamente a prevenção de doenças infectocontagiosas. Para isso, existe um Calendário Nacional de Vacinação da Criança, onde os pais podem acompanhar em qual momento seus filhos estão e quais imunizantes precisam ser administrados.2
Por exemplo: assim que nasce, o bebê precisa tomar a vacina BCG e a vacina da hepatite B. A primeira vacina combate a tuberculose, enfermidade infecciosa que mais mata no planeta e a terceira no Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBim). Por ser uma infecção que ataca justamente os recém-nascidos, a primeira vacina do bebê é muito importante.3
E assim, mês a mês, as crianças precisam ser protegidas tanto de vírus e bactérias consideradas comuns ainda em circulação no Brasil, como contra outras doenças já erradicadas, mas que ainda são monitoradas em alguns países. Por isso a importância do Plano Nacional de Imunização, que coordena a vacinação no Brasil, conforme explica o presidente da SBIm, Juarez Cunha
“Para se ter uma ideia, nosso PNI (Plano Nacional de Imunização) teve início na década de 1970 com poucas vacinas: além da BCG, contra a tuberculose, tivemos vacina oral contra a poliomielite, vacina contra o sarampo e a tríplice bacteriana – DPT, que combate a difteria, pertussis (coqueluche) e tétano. Com a utilização dessas vacinas, que transformaram doenças infantis que acometiam todo o mundo, conseguiu-se levar o recado para toda a população e comunidade científica, mostrando o valor das imunizações".
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Vacinação no Brasil: história da vacina
Quando olhamos a história da vacina no Brasil, um exemplo de doença controlada pela vacinação é a poliomielite, eternizada pelo surgimento do personagem Zé Gotinha e a distribuição dos imunizantes para os cantos mais remotos do país. “Essas vacinas criadas inicialmente foram importantes para o Brasil e temos um caso de sucesso: a vacina contra a poliomielite. O último caso da doença foi em 1989, já o sarampo foi eliminado em 2016, mas, infelizmente, voltou em 2018, e a rubéola congênita foi eliminada em 2016”, disse Juarez Cunha, presidente da SBIm.
Doenças como sarampo, caxumba, rubéola, pólio, hepatites A e B, coqueluche, difteria, entre outras, são velhas conhecidas das autoridades em saúde. No entanto, alguns nomes que já levaram pânico para a população, hoje parecem distantes e quase inofensivos. Segundo a vice-presidente da SBIm, Isabella Ballalai, esse é um dos motivos pelo qual houve uma queda na cobertura vacinal nos últimos anos.
“A população não tem percepção desse risco. Quando se fala em pólio, parece uma teoria muito distante e ninguém se preocupa com essa questão. A vacinação contra a poliomielite acontece como uma rotina na nossa sociedade. Mas, com o medo de sair de casa e a falta de comunicação eficiente, nossa cobertura também cai”, disse a especialista.
Você sabia?
67% dos brasileiros acreditam em informações falsas sobre vacinação.
O achado é parte do estudo As fake news estão nos deixando doentes?, divulgado em 2018 pela Avaaz em parceria com a SBIm, com o objetivo de investigar a associação entre a desinformação e a queda nas coberturas vacinais verificadas nos últimos anos.4
Há, ainda, evidências de que as notícias falsas tenham impactado na decisão de não se vacinar. Entre os que não se vacinaram, 57% relataram pelo menos um motivo considerado desinformação.4
Os mais comuns, nessa ordem, foram: não achei a vacina necessária (31%); medo de ter efeitos colaterais graves após tomar uma vacina (24%); medo de contrair a doença que estava tentando prevenir com a vacina (18%); por causa das notícias, histórias ou alertas que li online (9%); e por causa dos alertas, notícias e histórias de líderes religiosos (4%).4
Conheça as principais doenças contagiosas infantis protegidas por vacinas
Segundo os especialistas, é preciso sempre estar vigilantes para que doenças não ressurjam na sociedade. Conheça agora principais doenças infecciosas que atingem crianças, as causas e sintomas de cada uma delas.
Catapora (varicela)
Em crianças, a catapora costuma ser benigna, mesmo assim causa bastante incômodo. Fazer os pequenos não coçarem as lesões é uma missão quase impossível, e a prática pode provocar feridas e desencadear infecção bacteriana. Pneumonia e o comprometimento do sistema nervoso são outras complicações — felizmente, raras — e podem levar à internação.3
A infecção causada pelo vírus varicela zoster é altamente contagiosa e fácil de ser diagnosticada devido às erupções características na pele. A catapora é transmitida pelo contato com saliva ou secreções respiratórias, lesões de pele e mucosas e objetos contaminados.3
Caxumba
A caxumba é uma infecção viral das glândulas salivares (geralmente a parótida), sublinguais ou submandibulares, todas próximas aos ouvidos. Os sintomas costumam surgir de 12 a 25 dias após o contágio. As glândulas ficam inchadas, podendo-se perceber pelo pescoço, logo abaixo da orelha, e doloridas. Também causa dor de cabeça, dores musculares, fraqueza, febre, calafrios e dor ao mastigar ou engolir. Nos casos masculinos, pode ocorrer orquite, isto é, inflamação do testículo, e em casos femininos, a ooforite, isto é, inflamação dos ovários.5
A caxumba é transmitida através do contato direto com secreções (saliva ou espirro) da pessoa infectada.5
Coqueluche (pertussis)
Embora faça parte do calendário vacinal, muita gente não sabe ao certo o que é coqueluche, uma doença que ataca o aparelho respiratório. Com o passar do tempo, a tosse vai ficando mais intensa e repetitiva, seguida de período de calma. Quando a tosse está muito intensa, o doente chega a sentir falta de ar, ficando com o rosto vermelho e até mesmo azulado.6
A doença é transmitida por contato direto com secreção de indivíduo doente, como gotas de saliva lançadas ao ar, ou por objetos contaminados. É uma doença que tem risco para criança abaixo de 6 meses de vida, pois podem apresentar complicações tais como: convulsões, alterações neurológicas e desidratação.6
Difteria
O surgimento de placas esbranquiçadas nas amígdalas ou laringe, febre e calafrios podem ser sintomas da difteria. Ela é causada pela bactéria Corynebacterium diphtheriae, que vive na boca, garganta e nariz da pessoa infectada e produz uma toxina que pode gerar graves complicações, como a insuficiência cardíaca e a paralisia.3
A difteria é transmitida por via respiratória, em gotículas de secreção eliminadas durante a tosse, o espirro ou a fala, mesmo quando o portador da bactéria não apresenta sintomas, processo que pode durar mais de seis meses. Para a prevenção da difteria, é preciso que pelo menos 80% da população esteja vacinada. A doença é mais frequente em regiões com situação sanitária deficiente e maior índice de aglomeração de pessoas, onde geralmente há baixa cobertura da vacina de difteria.3
Meningite
É uma inflamação das membranas que recobrem e protegem o sistema nervoso central, localizado no cérebro, que recebem o nome de meninges. A meningite é uma doença que pode ser causada tanto por vírus quanto por bactéria, sendo a última a mais comum.7 Veja os tipos de meningite:
Meningócica: a meningite bacteriana mais frequente no Brasil é a meningocócica, causada pelos meningococos (Neisseria meningitidis). Extremamente perigosa, mata de 20% a 30% das pessoas que adoecem. A transmissão se dá de pessoa para pessoa, por meio de gotículas e secreções que saem do nariz e da garganta quando os infectados falam, tossem ou espirram.3
A transmissibilidade persiste até que o meningococo desapareça da nasofaringe, em geral após 24 horas de antibioticoterapia. Aproximadamente 10% da população pode ser portadora assintomática da bactéria e transmiti-la sem saber, principalmente adolescentes e adultos jovens.3
Pneumocócica: segunda meningite mais frequente no Brasil, a meningite pneumocócica é fruto da infecção pelo Streptococcus pneumoniae (ou pneumococo), o mesmo agente que causa pneumonia. Essa doença invasiva acontece quando a bactéria, alojada originalmente na nasofaringe, é transportada pela corrente sanguínea e “invade” as meninges — membranas que recobrem o cérebro e a medula espinhal —, gerando inflamação. A meningite pneumocócica costuma levar à hospitalização e está associada à alta letalidade (30%).3
Os sintomas iniciais são semelhantes aos da meningite meningócica. Os pneumococos são transmitidos por meio de gotículas de saliva ou muco expelidos quando os indivíduos infectados tossem, falam ou espirram. Algumas pessoas têm a bactéria na nasofaringe (região entre a boca e a garganta) sem apresentar qualquer sintoma, mas ainda assim são capazes de disseminá-la. Os portadores mais frequentes são as crianças pequenas.3
Tuberculosa: causada pelo Mycobacterium tuberculosis, é o tipo mais grave de tuberculose e, geralmente, uma complicação da forma pulmonar da enfermidade. Costuma acontecer nos primeiros seis meses após o contágio e evolui lentamente, sem aparentar gravidade. A principal fonte de transmissão são os chamados “bacilíferos”, pessoas com tuberculose pulmonar que possuem o bacilo da tuberculose ativo no escarro. Elas são capazes de transmitir grande quantidade de bactéria pela tosse, o que aumenta a probabilidade de os infectados desenvolverem formas graves da doença, como a meningite.3
A principal forma de prevenir a meningite tuberculosa é a vacinação de rotina com a BCG, especialmente porque o risco de adoecimento é maior no primeiro ano de vida.3
Poliomielite
A poliomielite, também chamada de paralisia infantil ou pólio, é uma infecção viral aguda causada por um dos três poliovírus existentes. É uma doença contagiosa, que ataca o sistema neurológico, afetando o corpo inteiro e podendo causar paralisia dos movimentos musculares.
O contágio é feito via contato direto entre pessoas, por via fecal-oral ou por objetos, alimentos e água contaminados com fezes de doentes ou de portadores do vírus. Também pode ser transmitida por meio de gotículas de secreções da garganta durante a fala, tosse ou espirro.3
Rubéola
Um número grande de pessoas infectadas pelo Rubella virus não apresenta sintomas ou apresenta forma muito leve da doença, o que a torna difícil de ser diagnosticada. O quadro clássico caracteriza-se pela presença de inchaço dos gânglios atrás do pescoço, febre não muito alta, manchas avermelhadas pelo corpo e, ocasionalmente, dores nas articulações.3
Contudo, mesmo as pessoas assintomáticas transmitem o vírus. A transmissão do Rubella virus se dá por meio da aspiração de gotículas de saliva e/ou secreção nasal.3
Sarampo
Essa é mais uma doença viral que se manifesta de forma aguda, produzindo alterações na pele. É extremamente contagiosa e grave e pode ser evitada por vacina. Entre as principais complicações, principalmente em menores de 2 anos a adultos jovens, estão as infecções respiratórias, a otite, as doenças diarreicas e neurológicas (encefalite).3
Ao se espalhar pelo organismo, o vírus do sarampo é capaz de causar inflamação dos pequenos vasos sanguíneos (vasculite) e diversos sintomas como febre alta (acima de 38,5°C), manchas vermelhas por todo o corpo, tosse, secreção nasal intensa, conjuntivite e pequenos pontos brancos na mucosa da boca (manchas de Koplik), característicos da doença.3
A transmissão ocorre diretamente de uma pessoa para outra, por meio das secreções do nariz e da boca expelidas ao tossir, respirar ou falar.3
Tétano
O tétano pode surgir em um ferimento produzido por algum metal enferrujado. O tétano não é transmissível de uma pessoa para a outra, mesmo assim a vacina é fundamental para evitar a doença em suas transmissões mais comuns: o tétano acidental, por ferimentos externos contaminados com terra, poeira ou fezes, ou então o tétano neonatal, adquirido pelo bebê na hora do corte do cordão umbilical, devido ao uso de instrumentos contaminados.3
Graças à vacina do tétano, o contato acidental é bastante raro no Brasil. A doença surge quando os esporos da bactéria Clostridium tetani atingem o sistema nervoso.3
Saiba mais:
- Conheça o calendário vacinal de prematuros e suas diferenças
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Fiocruz.
Doenças Infantis.
Disponível em: http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/doencasinfantis.htm. Acesso em: 2021, dezembro. -
Ministério da Saúde.
Caderneta da Criança Menino.
Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_crianca_menino_2ed.pdf. Acesso em: 2021, dezembro. -
Sociedade Brasileira de Imunizações.
Doenças.
Disponível em: https://familia.sbim.org.br/doencas. Acesso em: 2021, dezembro. -
Brasileira de Imunizações.
As Fake News estão nos deixando doentes?
Disponível em: https://sbim.org.br/images/files/po-avaaz-relatorio-antivacina.pdf. Acesso em: 2021, dezembro. -
Fiocruz.
Caxumba.
Disponível em: http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/caxumba.htm. Acesso em: 2021, dezembro. -
Fiocruz.
Coqueluche.
Disponível em: http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/coqueluche.htm. Acesso em: 2021, dezembro. -
Fiocruz.
Meningite.
Disponível em: http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/meningite.htm. Acesso em: 2021, dezembro.
Referências