A MPS I resulta de uma mutação no gene que codifica a enzima α-L-iduronidase, a qual resulta em um acúmulo de glicosaminoglicanos nas células de diversos órgãos e na consequente deterioração da sua função.3

    A MPS I é herdada da forma conhecida como autossômica recessiva.4

    Nesta forma de herança genética, os dois pais precisam carregar uma cópia do mesmo gene com mutação causadora da doença, e cada um transmite este gene para seu filho. Desta forma, um casal portador heterozigoto tem 25% de chance de ter um filho afetado.

    A MPS I é um distúrbio genético pan-étnico com uma incidência estimada de 1 em cada 100.000 nascimentos vivos.5

    Clinicamente, a MPS se apresenta como um espectro da doença, variando do fenótipo severo (síndrome de Hurler) a fenótipos atenuados (síndromes de Hurler-Scheie e Scheie), que são diferenciados pela presença/ausência de envolvimento neurocognitivo e taxa de progressão da doença.5

    A MPS I atenuada aparece no paciente como um grupo de manifestações heterogêneas e multissistêmicas.6
    Além da baixa estatura, pacientes com MPS I atenuada podem apresentar um ou mais dos sintomas a seguir.2, 7, 8

    A MPS I atenuada é caracterizada por um espectro da doença com idade de início, progressão e envolvimento de órgãos variável.5
    Hérnias foram os sintomas de apresentação mais precoce. Portanto, a presença de hérnia inguinal ou umbilical em crianças pequenas deve levantar a suspeita de MPS I atenuada.5
    Sintomas de comum ocorrência são observados inicialmente entre 3-7 e 5-13 anos de idade em pacientes Hurler–Scheie e Scheie, respectivamente. 5
    Prevalência e idade de início de sinais e sintomas em pacientes com MPS I atenuada.5

     A suspeita de MPS I deve ser levantada em todos os pacientes com cifose ou giba, ou enrigecimento articular ou contraturas sem sinais inflamatórios. 9

    O reconhecimento de sintomas e diagnóstico precoces são essenciais para alcançar o melhor prognóstico em longo prazo para pacientes com MPS I.5

    O diagnóstico precoce é imprescindível para impedir ou adiar dano irreversível a órgãos e otimizar os resultados do tratamento.8

    - Análise de GAG na urina: Um exame de triagem sensível, mas não específico para MPS I.  Deve ser confirmado por teste confirmatório de atividade enzimática em leucócitos.6, 8   Abreviação: GAG, glicosaminoglicanos

    - Ensaio Enzimático: Um diagnóstico definitivo é confirmado por um ensaio enzimático indicando uma α-L-iduronidase deficiente em leucócitos ou fibroblastos cutâneos em cultura; comumente realizado usando uma amostra de mancha seca de sangue. 8, 10
    - Teste molecular/genético: Para confirmar o diagnóstico ou avaliar membros da família quando o tipo de MPS e a mutação familiar são conhecidos10 

    - Falta de familiaridade com a doença entre os médicos
    - Ampla variabilidade na apresentação clínica
    - Natureza não específica das manifestações da doença
    - Raridade da doença
    Algumas manifestações como rigidez e contrações nas articulações podem imitar outras condições como artrite inflamatória, mas sem sinais de inflamação, que pode causar adiamento adicional.1
    Diagnósticos equivocados mais comuns;12
    - Doença autoimune; Doença do tecido conjuntivo; Distrofia muscular; Espondiloartrite; Artrite reumatoide; Artrite idiopática juvenil. 

    Os sintomas são consideravelmente variáveis, frequentemente em sobreposição, causando de anos a décadas de atraso no diagnóstico.2
    Pacientes com MPS I atenuada normalmente apresentam um espaço de 2 a 4 anos entre o início dos sintomas e o diagnóstico, e um espaço de 4 a 8 anos entre o diagnóstico e o início do tratamento.5

    Conscientização aumentada dos sinais e sintomas da doença entre subspecialistas pediátricos é crucial para iniciar o tratamento precoce e melhorar a qualidade de vida de pacientes com MPS I.11

    O atraso na doença da MPS I atenuada leva a progressão da doença que pode ser potencialmente fatal.11, 13
    A gravidade e taxa da progressão da MPS I atenuada pode variar de complicações graves potencialmente fatais levando ao óbito na segunda a terceira décadas de vida, a uma vida normal com incapacidade significativa devido a doenças articulares e cardiorrespiratórias progressivas.13
    O reconhecimento oportuno da doença resultará em intervenções oportunas para os pacientes, as quais, por sua vez, podem levar a melhores resultados, progressão da doença lenta e melhora na qualidade de vida. 3

    A maioria dos casos é diagnosticada por geneticistas.14

    O início precoce da terapia, antes de dano irreversível, pode ser mais eficaz no retardo da progressão da doença.8

    O tratamento inclui cuidado de suporte e tratamento específico para a doença.15

    Cuidado de suporte: Intervenções cirúrgicas (por exemplo, adenotonsilectomia, reparo de hérnia, substituição de valva cardíaca, liberação do túnel do carpo, descompressão da coluna); fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia; suporte respiratório; aparelhos auditivos e medicações para dor e perturbações gastrointestinais.11

    Terapia de Reposição Enzimática (TRE): Infusões intravenosas de enzima humana recombinante semanalmente ou a cada 2 semanas. Laronidase foi a primeira TRE aprovada para o tratamento de uma forma de MPS e está disponível nos EUA e Europa desde 2003.15 No Brasil, o tratamento foi incorporado pelo SUS em 2017.16

    As manifestações que sabidamente respondem a TRE incluem: Comprometimento osteoarticular; Comprometimento cardíaco; Comprometimento respiratório.17

    1. Morishita K and Petty RE. Rheumatology 2011;50:v19-v25. 

    2. Pastores GM, Arn P, Beck M, et al. Molecular Genetics and Metabolism 2007;91:37–47.

    3. Thomas JA, Beck M, Clarke JTR and Cox GF. J Inherit Metab Dis 2010; 33:421–427.

    4. A Guide to Understanding Hurler, Hurler-Scheie and Scheie syndromes (mucopolysaccharidosis type I; MPS I). The MPS and Related Diseases Society of Australia Updated: April 2013.

    5. Beck M, Arn P, Giugliani R, et al.The natural history of MPS I: global perspectives from the MPS I Registry; Genet Med 2014 ;(10):759-65.

    6. Vijay S and Wraith JED.Clinical presentation and follow-up of patients with the attenuated phenotype of mucopolysaccharidosis type I. Acta Pædiatrica 2005; 94: 872–877

    7. Wraith EJ.The first 5years of clinical experience with laronidase enzyme replacement therapy for mucopolysaccharidosis I Expert Opin. Pharmacother. 2005; 6(3):489-506.

    8. Muenzer J, Wraith JE and Clarke LA. Mucopolysaccharidosis I: management and treatment guidelines. Pediatrics 2009;123:19–29. 

    9. Tylki-Szymanska et al. Easy-to-use algorithm would provide faster diagnoses for mucopolysaccharidosis type I and enable patients to receive earlier treatment. Acta Pædiatrica 2018 107, pp. 1402–1408 

    10. Lehman TJA, Miller N, Norquist B, et al. Diagnosis of the mucopolysaccharidoses. Rheumatology 2011;50:v41-v48. 

    11. D’Aco K, Underhill L, Rangachari L, et al. Diagnosis and treatment trends in mucopolysaccharidosis I: findings from the MPS I Registry. Eur J Pediatr 2012; 171:911–919. 

    12. Cimaz R, Coppa GV, Koné-Paut I, et al. Joint contractures in the absence of inflammation may indicate mucopolysaccharidosis. Pediatric Rheumatology 2009; 7:18 

    13. Clarke LA. Mucopolysaccharidosis Type I. 2002 Oct 31 [Updated 2016 Feb 11]. In: Adam MP, Ardinger HH, Pagon RA, et al., editors. GeneReviews® [Internet]. Seattle (WA): University of Washington, Seattle; 1993-2018. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK1162/. 

    14. Bruni et al. The diagnostic journey of patients with mucopolysaccharidosis I: A real-world survey of patient and physician experience. Molecular Genetics and Metabolism Reports Volume 8, September 2016, Pages 67-73 

    15. Valayannopoulos V and Wijburg FA. Therapy for the mucopolysaccharidoses. Rheumatology 2011;50:v49–v59. 

    16. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) da mucopolissacaridose tipo I 

    17. Martins AM, Dualibi AP, Norato D, et al. Guidelines for the Management of Mucopolysaccharidosis Type I. The journal of pediatrics 2009;155:S32-S46.


    GZBR.ALDU.19.11.0376 /Dezembro2019

Compartilhar