ARTIGO
Comunidade LGBTQIA+: como criar uma farmácia inclusiva
Muitas vezes, por falta de conhecimento, são criadas barreiras para que a comunidade LGBTQIA+ exerça seu direito à saúde. O balconista deve estar preparado para atender respeitosamente e criar um ambiente inclusivo para todas as pessoas. Confira dicas práticas!
Introdução
Apesar de diversas conquistas de direitos, pessoas LGBTQIA+ ainda sofrem discriminação em diversas esferas da sociedade, até mesmo na saúde.1,2
A falta de conscientização sobre a importância de acolher esse público pode criar barreiras para que essas pessoas exerçam seus direitos à saúde e também pode gerar comportamentos, como violências verbais, morais, físicas, estigmatização e constrangimento, até mesmo omissão de cuidado, que além de prejudiciais para nossa sociedade, são uma violação dos direitos humanos.2
Vamos entender um pouco mais sobre essa comunidade e pensar em como fazer com que a farmácia seja um ambiente acolhedor da diversidade?
Entendendo a sigla
Primeiro é importante entender que o objetivo não é rotular nem colocar as pessoas “numa caixinha”, pois a diversidade é muito mais que uma sigla. Mas aprender alguns conceitos e termos ajuda a acabar com a discriminação e o preconceito com as pessoas LGBTQIA+ e propiciar um cuidado mais inclusivo.2
E o que é orientação sexual? Identidade de gênero? Vamos entender esses termos e conceitos.
Termos e conceitos
Quando nascem, as pessoas recebem uma designação de sexo a partir de parâmetros biológicos, ou seja, pela genitália. Porém, cada indivíduo pode expressar uma diversidade que vai além dessa padronização social, a partir da experiência vivida em sociedade e a percepção que elas têm de si.2
Unicórnio de gênero
Identidade de gênero:
Feminina/mulher/garota
Masculino/homem/garoto
Outros gêneros
Expressão/apresentação de gênero:
Feminina
Masculina
Outras
Sexo designado ao nascer
Feminino
Masculino
Outro/intersexo
Atração sexual por:
Feminilidade
Masculinidade
Nenhuma/outra expressão
Atração emocional/romântica por:
Feminilidade
Masculinidade
Nenhuma/outra expressão
Dicas para um atendimento inclusivo
Primeiro, o atendimento deve ser focado na assistência integral, e não somente na orientação sexual e/ou identidade de gênero. E, para isso, também é necessário que os princípios morais e religiosos não influenciem o julgamento sobre a pessoa e seu estado de saúde.2 Essa é uma das razões que podem afastar a comunidade LGBTQIA+ dos serviços de saúde, pois muitos já passaram por discriminação, vergonha e acabam tendo uma expectativa sobre um possível contato desrespeitoso.2
Por isso, é importante construir um ambiente acolhedor e inclusivo para essas pessoas e lembrar que diferentes grupos de identidade podem enfrentar desafios diferentes para o atendimento em saúde. Assim, o atendimento deve ser adaptável para cada indivíduo.1,2
Algumas dicas para um atendimento inclusivo são:2,5
Não fazer suposições sobre a identidade de gênero ou orientação sexual com base no nome de registro, aparência ou voz.
Manter uma linguagem neutra em relação ao gênero.
No primeiro contato, você pode perguntar: “qual é o seu nome/nome que prefere que seja usado?” Adote esse nome para todas as interações, inclusive escritas e digitais, mesmo que o nome não esteja em documentos oficiais. Respeite o nome social!
Caso cometa algum erro em relação ao nome ou pronome, reconheça e peça desculpas!
Não fazer perguntas pessoais desnecessárias, que não sejam diretamente relevantes para o cuidado do paciente. Por exemplo: evite perguntar sobre o sexo anatômico de uma pessoa trans, nem fazer perguntas sobre cirurgia de afirmação de sexo.
Garantir o acesso das pessoas aos banheiros conforme sua identidade de gênero ou oferecer banheiros com gênero neutro.
Considere tornar os formulários usados na farmácia mais inclusivos, não apenas binários masculinos/femininos.
Procure buscar informações sobre a temática em fontes seguras
Dicas para uso da linguagem neutra
A gramática do português requer que falantes escolham uma forma diferente de pronome (como dela/dele), dependendo do gênero do substantivo. Porém, novas formas de linguagem estão sendo criadas para que pessoas com diversas identidades de gênero sejam incluídas e reconhecidas:5
- Para descrever pessoas não binárias, ou para nos referirmos a grupos de pessoas, incluindo todos os gêneros, uma estratégia é substituir palavras marcadas como masculinas ou femininas por palavras neutras ou ambíguas. Ao invés de “homem” ou “mulher”, podemos usar “pessoa”, “pessoal”, “gente”, “colega”.
- Supressão de artigos e pronomes: ao invés de “a Ariel saiu de casa com a Vivi”, podemos dizer “Ariel saiu de casa com Vivi.”
- Uso da vogal “e” ao invés de “o” ou “a” no final de palavras como adjetivos. Por exemplo, “todes” ao invés de “todos” ou “todas”. Outra opção é deixar de pronunciar as vogais que demarcam gênero ou colocar um “s” no depois de retirar a vogal, como “amig, amigs”.
- Uso do sistema “el”: substituição dos pronomes pessoais “ela(s)” ou “ele(s)” pelos pronomes não binários “el(s)”.
As maneiras pelas quais nos comunicamos interferem na maneira em que identidades são construídas. Uma vez que a linguagem está profundamente arraigada em estruturas sociais, as escolhas de linguagem que fazemos podem silenciar alguns grupos em diversos âmbitos sociais. Assim, é preciso se conscientizar para a utilização de formas e palavras que resultem em visibilidade, inclusão e respeito5 para criar uma farmácia acolhedora da diversidade.
Modelo para registro em prontuário
Em algumas farmácias, o balconista pode ser quem abre a ficha para o atendimento farmacêutico. Nesses casos, há abaixo um modelo sugerido de registro do paciente no estabelecimento.6
A Sanofi apoia a causa LGBTQIA+ e a diversidade em geral.
Esse artigo faz parte de uma série que visa contribuir para atualizações na atuação de balconistas em um novo modelo de farmácias. Leia também sobre A importância do balconista na farmácia como hub de saúde, que traz uma interessante abordagem sobre as transformações que vêm ocorrendo nas farmácias, as quais deixam de ser simples pontos de vendas para se tornarem estabelecimentos de prestação de serviços de saúde, nas quais as atribuições do balconista também vêm evoluindo. Leia o artigo e confira como isto está acontecendo!
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Pratt-Chapman ML, Eckstrand K, Robinson A, et al.
Developing Standards for Cultural Competency Training for Health Care Providers to Care for Lesbian, Gay, Bisexual, Transgender, Queer, Intersex, and Asexual Persons: Consensus Recommendations from a National Panel.
LGBT Health 2022;9(5):340–7. -
Conselho regional de farmácia do estado da Bahia.
Guia do Cuidado Farmacêutico para a Comunidade LGBTI+ [Internet].
Disponível em: https://portais.univasf.edu.br/noticias/guia-do-cuidado-farmaceutico-para-a-comunidade-lgbti-orienta-profissionais-de-farmacia-sobre-atendimento-humanizado/guia.pdf. Acesso em: 01/03/2023. -
Tribunal Regional do Trabalho da 4a Região (RS).
LGBTQIA+: Você sabe o que essa sigla significa? [Internet].
Disponível em: https://www.trt4.jus.br/portais/trt4/modulos/noticias/465934. Acesso em: 01/03/2023. -
Trans Student Educational Resources.
Gender Unicorn [Internet]. 2017.
Disponível em: https://transstudent.org/gender/. Acesso em: 01/03/2023. -
Babbel & TransEmpregos.
Orientações para a inclusão linguística de pessoas trans [Internet].
Disponível em: https://assets.ctfassets.net/emuz1ihdsk2e/6OYXOzRaom7ycFWiCmWAQq/3d18e549c069534fc2d8ff56bc9d84bd/SEO_InclusiveLanguageGuide_POR_V2.pdf. Acesso em: 01/03/2023. -
Ciasca SV, Hercowitz A, Lopes-Jr. A.
Saúde LGBTQIA+:Práticas De Cuidado Transdisciplinar.
Editora Manole, 2021.
Referências