Exercícios para prevenção da fragilidade e de quedas em idosos

A inatividade física está relacionada ao desenvolvimento de fragilidade em idosos. Assim, programas de exercícios são recomendados para essa população. Nesta matéria falamos sobre o Vivifrail, um programa individualizado de orientação de plano de atividade física, e sua eficácia.No mundo, a prevalência de fragilidade é de:1 Acima de 65 anos Naqueles com 85 anos ou mais A dependência secundária à fragilidade causa grande impacto nos sistemas de saúde devido aos cuidados de longo prazo e eventual institucionalização, acarretando em altos custos.3 Assim, é importante que profissionais de saúde estejam capacitados para orientar medidas que ajudem a prevenir ou reverter a deterioração funcional e cognitiva em idosos, por exemplo, implementando programas de exercícios sob medida.2,3 Importância do exercício físico A inatividade física está relacionada à perda da função muscular e da capacidade funcional, que parecem ser fatores chave para a fragilidade.2,4 Por sua vez, o exercício físico reduz a atrofia muscular e a perda de densidade mineral óssea, além de melhorar o metabolismo, contribuindo para a manutenção da sensibilidade à insulina.2,3 Outro importante benefício da atividade física é a melhora nos indicadores de fragilidade, como força muscular, capacidade de marcha, equilíbrio e quedas.2 Além disso, exercícios supervisionados têm se mostrado seguros e eficazes para atenuar o declínio funcional e prevenir o declínio cognitivo.4 Benefícios da atividade física em indicadores de fragilidade:2,4 ícone força muscular Força muscular ícone capacidade de marcha Capacidade de marcha ícone equilíbrio Equilíbrio ícone proteção cognitiva Proteção cognitiva ícone quedas Quedas ícone declínio funcional Declínio funcional Para idosos frágeis, assim como para pessoas com pré-fragilidade são recomendados programas de exercícios multicomponentes, considerados a forma mais eficaz para modificar ou reverter a fragilidade física em pessoas com 70 anos ou mais.2,3 Os programas mais eficazes para prevenir as complicações da fragilidade consistem na combinação de:2 resistência, exercícios de equilíbrio, retreinamento da marcha. Além disso, evidências sugerem que o exercício multicomponente, realizado em grupos ou individualmente, pode reduzir a ocorrência de quedas em idosos com risco de quedas:5 Intervenções de exercícios em grupo (idade média de 69 a 88 anos) observaram: queda de 29 pontos percentuais na taxa de quedas (Dados de 16 estudos) Intervenções de exercícios individuais (idade média de 69 a 88 anos) observaram: queda de 32 pontos percentuais na taxa de quedas (Dados de 8 estudos) Estudo com treinamento de equilíbrio e força incluído nas atividades da vida diária mostrou: queda de 79 pontos percentuais na taxa de quedas (Dados de 1 estudo) Programa Vivifrail De acordo com esse conceito, foi desenvolvido o Vivifrail, um programa patrocinado pelo Erasmus+ Programme of the European Union e que faz parte da estratégia para a promoção da saúde e qualidade de vida na União Europeia,2,6 estando também alinhado com as diretrizes de Cuidados Integrados para Pessoas Idosas da Organização Mundial de Saúde (OMS), como tratamento para indivíduos em risco de limitações de mobilidade.6 Este programa consiste em um plano individualizado de exercícios multicomponentes, projetado para facilitar a prescrição de exercícios baseados em evidências na população idosa.2,6 O Vivifrail estabelece programas de atividades físicas de acordo com a capacidade funcional do idoso, a partir de pontuações dadas por:4,7 Bateria de Desempenho Físico Curto (Short Physical Performance Battery - SPPB): Teste de Equilíbrio. Teste de Velocidade de Marcha em 4 metros. Teste de Levantar da Cadeira. Avaliação de risco de queda. Para cada classificação de capacidade funcional, o programa recomenda um passaporte com exercícios físicos:7 Programas de exercícios recomendados de acordo com o nível de capacidade funcional ícone passaporte A Passaporte Tipo A Pessoa com incapacidade ícone passaporte B Passaporte Tipo B Pessoa com fragilidade Passaporte Tipo B+ Pessoa com fragilidade e risco de quedas ícone passaporte C Passaporte Tipo C Pessoa com pré-fragilidade Passaporte Tipo C+ Pessoa com pré-fragilidade e risco de quedas ícone passaporte D Passaporte Tipo D Pessoa robusta O programa tem uma duração de 12 semanas, com uma rotina diária de exercícios de aproximadamente 30-45 minutos,7 que são organizados de maneira rotativa (Figura 1), incluindo exercícios de:3 resistência/potência, equilíbrio, flexibilidade, resistência cardiovascular. Essas atividades físicas envolvem principalmente os músculos dos membros inferiores, parte superior do corpo e retreinamento de equilíbrio e marcha.3 Passaporte A Extensão do joelho com caneleira Levantar da cadeira com ajuda Caminhar com os pés em linha Alongamento de braços Caminhar Apertar uma bola Levantar uma garrafa Extensão do joelho com caneleira Levantar da cadeira com ajuda Caminhar com os pés em linha Alongamento de braços Caminhar Apertar uma bola Levantar uma garrafa Extensão do joelho com caneleira Figura 1. Exemplo de rodada de exercícios do passaporte tipo A. Adaptado de Courel-Ibáñez J et al. J Am Med Dir Assoc 2022;23(1):98–104.e3.3 Atenção! O programa é contraindicado em casos de certas doenças cardiovasculares, diabetes mellitus com descompensação aguda ou hipoglicemias não controladas, fratura recente no último mês ou outra condição que impeça a realização de atividade física.7 Resultados com Vivifrail Em um estudo com duração de 4 semanas, o Vivifrail foi considerado eficaz em prevenir o declínio funcional grave e a perda de força em idosos institucionalizados.2 Outro estudo controlado, randomizado e multicêntrico, conduzido em três hospitais terciários na Espanha, avaliou 88 pacientes idosos (> 75 anos) com comprometimento cognitivo leve ou demência leve, aleatoriamente designados para:2 grupo controle de cuidados habituais, ou intervenção com exercícios (Vivifrail), incluindo resistência, equilíbrio, flexibilidade (3 dias/semana) e exercícios de retreinamento de marcha (5 dias/semana), por três meses consecutivos. O grupo de intervenção apresentou um aumento médio de 0,86 pontos na pontuação SPPB após 1 mês e 1,40 pontos após 3 meses de treinamento físico versus o grupo controle (Figura 2).2 Figura 2 Figura 2. Mudanças na capacidade funcional avaliada pela pontuação SPPB após 1 e 3 meses de treinamento físico (grupo de intervenção com exercícios Vivifrail) ou cuidados habituais (grupo controle). Adaptado de Casas-Herrero Á et al. J Cachexia Sarcopenia Muscle 2022;13(2):884–93.2 Também houve diferença na distribuição de pacientes em diferentes categorias Vivifrail entre os dois grupos desde o início do estudo até 3 meses da intervenção com exercícios. Por exemplo, a porcentagem de pacientes na categoria de incapacidade diminuiu progressivamente no grupo de treinamento físico, enquanto essa tendência não foi observada no grupo controle (Figura 3).2 Figura 3 Figura 3. Mudanças nas categorias funcionais (da classificação Vivifrail) no início do estudo, 1 mês e 3 meses após a intervenção com treinamento físico ou cuidados habituais. Adaptado de Casas-Herrero Á et al. JCachexia Sarcopenia Muscle 2022;13(2):884–93.2 Uma análise secundária desse estudo avaliou os efeitos do Vivifrail na capacidade intrínseca (capacidade física + mental) e diferentes domínios dos pacientes. Após a intervenção de 3 meses, foram relatadas diferenças significativas a favor do grupo de exercício físico versus o grupo controle em relação à evolução da:6 pontuação composta da capacidade intrínseca (física + mental); domínio locomotor; domínio cognitivo; domínio de vitalidade. Esses resultados suportam a recomendação da OMS sobre a intervenção eletiva com Vivifrail para aqueles que apresentam declínios no domínio locomotor, além de mostrar melhora em outros marcadores