ARTIGO

Highlights Gut Microbiota for Health 2023

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Publicado

Mai/2023

10 min

Neste artigo, o Dr. Carlos Alberto Nogueira de Almeida traz os principais highlights da 11^a edição do maior evento mundial sobre microbiota, o Gut Microbiota for Health (GMFH) World Summit.

Dr. Carlos Alberto Nogueira de Almeida

Médico com título de Especialista em Nutrologia, Mestre e Doutor pela USP,
Professor Adjunto da Universidade Federal de São Carlos, Diretor da Associação
Brasileira de Nutrologia.

A 11ª edição do Gut Microbiota for Health World Summit foi promovida pela Sociedade Europeia para Neurogastroenterologia e Motilidade (ESNM) e Associação Americana de Gastroenterologia (AGA).¹

O futuro brilhante da próxima geração de terapia baseada em microbioma

Palestrante Dr. Eugene B. Chang (Chicago, EUA)

A manipulação da microbiota intestinal pode proporcionar o desenvolvimento de terapias para as mais variadas doenças, como:

Distúrbios gastrointestinais funcionais

Doenças inflamatórias intestinais

Doenças metabólicas

Porém, apesar das perspectivas otimistas, ainda é preciso cautela com a interpretação de resultados.

Muitos estudos em modelos animais ainda não podem ser extrapolados para humanos.

Dificuldade na execução de estudos clínicos que demonstrem relação de causa-efeito.

Muitas vezes, estudos observacionais mostram apenas associação, que pode ser efeito das doenças sobre a microbiota e não sua efetiva causa.

Probiótico para acelerar a maturação do microbioma intestinal em bebês extremamente prematuros

Palestrante Dra. Marie-Claire Arrieta (Calgary, Canada)

O uso de probióticos tem sido bastante estudado em recém-nascidos, especialmente os prematuros, devido a seu potencial de reduzir algumas doenças típicas, como a enterocolite.

Os suplementos probióticos podem ajudar a formar um microbioma saudável no intestino
de bebês prematuros que nascem sem um microbioma intestinal totalmente formado.

Um recente estudo da Dra. Arrieta mostrou que uma mistura probiótica específica de 4 bifidobactérias e 1 lactobacilo foi capaz de:

Acelerar a maturação da microbiota, levando-a a um estado semelhante àquele observado em bebês nascidos a termo.

Reduzir a inflamação intestinal em bebês extremamente prematuros.

Aditivo alimentar

Palestrante Dr. Benoit Chassaing (Paris, France)

Diversos emulsificantes, comumente usados na indústria para dar espessamento e melhor textura aos alimentos, podem ter efeitos deletérios sobre a permeabilidade da mucosa intestinal. Um estudo experimental mostrou que:

Alguns emulsificantes, como a carboximetilcelulose, alteram a microbiota saudável.

O efeito protetor da microbiota contra microrganismos potencialmente deletérios é prejudicado.

Bactérias patogênicas conseguem penetrar a mucosa intestinal com mais facilidade, atingindo camadas mais profundas.

No entanto, esse efeito é observado quando há susceptibilidade individual e consumo inadequado de fibras dietéticas.

Adaptação genética de espécies-chave

Palestrante Dra. Tanja Dapa (Sevilla, Spain)

Mudar de uma dieta com baixo teor de gordura e alto teor de fibras para uma de estilo ocidental, rica em gordura e açúcar, causa desequilíbrios da microbiota (disbiose) subjacentes a muitas condições patológicas. Um dos efeitos da mudança de dieta pode ocorrer em espécies-chave (keystone species), que preenchem um papel ecológico crítico que nenhuma outra espécie pode.

Em modelos animais, Bacteroides thetaiotaomicron, um membro chave da microbiota degradadora de fibras, sofre mutações após a colonização do intestino sob diferentes regimes alimentares:

B. thetaiotaomicron evoluiu rapidamente no intestino de animais usuários de dieta de estilo ocidental, apresentando mutações que promovem a degradação de glicanos derivados da mucina.

Mudanças dietéticas periódicas causaram flutuações na frequência de tais mutações, resultando na manutenção de maior diversidade genética intraespécie em comparação com regimes alimentares constantes, e foram associadas a alterações metabólicas.

Esses resultados mostram que as mudanças na dieta deixam uma assinatura genética nos membros do microbioma e sugerem que a diversidade genética de B. thetaiotaomicron pode ser um biomarcador para diferenças alimentares entre indivíduos.

Probióticos projetados para entregar proteínas terapêuticas

Palestrante Dr. Jan Peter van Pijkeren (Madisson, USA)

O Dr. van Pijkeren apresentou uma estratégia inovadora para o tratamento do câncer: promover o crescimento de bactérias dentro de tumores. Essas bactérias podem ser projetadas para:

1. Produzir substância nocivas à neoplasia e leválas diretamente para o local onde estão as células cancerígenas.

2. Invadir o tumor e expressar antígenos tumorais em grande quantidade, levando a uma resposta imune potente do hospedeiro, com potencial de ele mesmo destruir o tumor.

Dietas direcionadas à microbiota intestinal modulam o estado imunológico humano

Palestrante Dr. Matthew Carter (Stanford, USA)

Os oligossacarídeos do leite humano (HMOs), já são bastante conhecidos pelos pediatras. Trata-se de pequenos oligossacarídeos derivados da lactose, altamente prevalentes no leite materno e que, por não serem digeríveis, apresentam efeitos fundamentalmente prebióticos.

Esses nutrientes têm sido acrescentados em fórmulas infantis com a finalidade de reproduzir, nessas fórmulas, os efeitos benéficos à saúde do leite humano.

Atualmente, está sendo investigada a possibilidade de usar os HMOs como suplemento alimentar em indivíduos adultos ≥ 60 anos, a fim de modular a microbiota e interferir no metabolismo.

Fibras dietéticas e resposta aos inibidores do checkpoint imunológico

Palestrante Dra. Meriem Messaoudene (Montreal, Canada)

As células tumorais se utilizam de reguladores da resposta imunológica, chamados checkpoint imunológicos, para evitarem ser destruídas pelo nosso sistema. O desenvolvimento de medicamentos inibidores do checkpoint imunológico (ICI) foi um avanço no tratamento do câncer, porém, alguns pacientes se mostram resistentes a essa terapia.

Nesse contexto, uma estratégia promissora na terapia adjuvante do câncer é a manipulação do microbioma intestinal, que pode modular o sistema imunológico e, consequentemente, melhorar a atividade dos ICI.

O camu-camu, um fruto da região amazônica, possui castalagina em sua composição. Essa substância foi capaz de:

Induzir modificações na composição da microbiota intestinal de camundongos,

que levou a um aumento da infiltração de células T (CD8+) e consequente atividade citotóxica sobre as células tumorais

Diet Omics — Compreendendo como diferentes dietas afetam o metabolismo bacteriano

Palestrante Dra. Yael Haberman (Tel-Aviv, Israel)

Uma análise multivariada de informações de consumo alimentar, transcriptoma da mucosa do íleo terminal, microbioma, entre outras, apresentou potencial de encontrar os principais efeitos de nutrientes sobre a microbiota e, consequentemente, algumas doenças.

Apesar do modelo precisar de ajustes para diferentes populações, os estudos mostraram a importância do consumo de: