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Vacinação no Brasil: história da vacina

Publicado

Jul/2021

15 min

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Já imaginou como seria o mundo atual sem o poder protetor da vacinação e a presença constante de doenças que só lembramos o nome em épocas de vacinação, como poliomielite, coqueluche e tétano?

Bom, o surgimento de uma variante do já conhecido coronavírus em 2019 nos deu um pouco de noção de como a vacinação é fundamental para a proteção de todos os seres humanos.10

As epidemias, ou pandemias, quando ocorrem em escalas globais, podem surgir de diversas formas, seja por vírus, como o SARS-COV-2, que causa a COVID-19,10 ou bactérias, como ocorreu com a peste bubônica, ainda no século 14. A doença levou à morte cerca de um quarto da população europeia, onde se concentrava boa parte da população global na época.1

Mas nosso assunto são doenças bem mais presentes e outras que, felizmente, foram controladas nas últimas décadas graças à vacinação. Com a humanidade se locomovendo cada vez mais entre os cinco continentes, as doenças transmissíveis viraram foco de preocupação da comunidade médica, o que fez surgir a epidemiologia.

história da vacinação no Brasil, sempre viveu de altos e baixos, relembra o especialista Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações. Criadas como política governamental ainda no tempo imperial, as vacinações compulsórias motivaram revoltas populares, mas década após década, o Brasil foi ganhando espaço como um dos países mais preparados para campanhas vacinais. Vamos conhecer essa história.

Conheça a história da vacinação no Brasil

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Em 1837, no Brasil Império, foi estabelecida a imunização compulsória contra a varíola nas crianças. No ano de 1846, foi criado o Instituto Vacínico do Império e, em 1900, foi criado o Instituto Soroterápico Federal, com o objetivo de fabricar soros e vacinas.2

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Em 1903, o diretor-geral de saúde pública do Brasil, Oswaldo Cruz, estruturou a campanha contra a febre amarela em moldes militares, dividindo o Rio de Janeiro em dez distritos sanitários.

Em seguida, Oswaldo Cruz iniciou sua luta contra a peste bubônica. No ano seguinte, 1904, a vacinação e revacinação contra a varíola virou obrigatória, mas o processo gerou um movimento popular conhecido como Revolta da Vacina.

Em 1908, um novo surto de varíola e o reconhecimento internacional de Oswaldo Cruz fez a população aderir em massa à vacinação. Nas décadas seguintes, a ciência evoluiu consideravelmente e a população, por sua vez, passou a assimilar a importância das campanhas vacinais.2

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O trabalho de Oswaldo Cruz e outros sanitaristas, como Carlos Chagas, fizeram o Brasil avançar significativamente no controle das doenças. Mas foi no ano 1960 que o país deu um salto nas mobilizações nacionais.

Em 1961, foi realizada a primeira campanha de vacina contra a poliomielite. No mesmo ano, o Instituto Oswaldo Cruz iniciou a técnica de diagnóstico laboratorial da doença.

No ano seguinte, foi feita a Campanha Nacional Contra a Varíola, com vacinação em diversos estados. Ainda em 1962, foi feito o primeiro ensaio para a administração da vacina BCG Intradérmica no Brasil.

Em 1966, foi criada a Campanha de Erradicação da Varíola. Quase 200 anos após a catalogação da primeira vacina contra a doença.2

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O Brasil criou, em 1971, o Plano Nacional de Controle da Poliomielite. Em 1975, realizou a Campanha Nacional Contra a Meningite Meningocócica  e, em 1977, criou a caderneta de vacinação, mesmo ano em que o mundo viu os últimos casos de varíola. Foi também em 1977 que o Brasil definiu as vacinas obrigatórias para menores de 1 ano.2

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Foi criado, em 1981, o Plano de Ação Contra o Sarampo. Em 1984, o governo utilizou a estratégia de multivacinação com a aplicação seletiva das vacinas DPT e contra o sarampo. O mesmo ocorreu com o Dia D da vacina contra poliomielite.

Em 1986, nasceu o personagem Zé Gotinha, um símbolo da vacinação infantil e incentivo para as crianças irem acompanhadas pelos pais aos postos de vacinação. Por fim, em 1989, a poliomielite tornou-se uma doença eliminada pela vacina no Brasil.2

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Em 1991, a preocupação foi com a vacina contra o tétano em gestantes, com o Plano de Eliminação do Tétano Neonatal e vacinação de mulheres em idade fértil nos municípios de risco. 

No ano seguinte, foi colocado em ação o Plano Nacional de Eliminação do Sarampo, com campanhas nacionais. A doença, no entanto, ainda não foi eliminada no país.

Em 1997 foi implantada a vacina contra a rubéola no pós-parto. No ano seguinte, foi implantada a vacina contra Haemophilus influenzae tipo B para menores de 1 ano.2

No ano de 1998, foi realizada a substituição da vacina isolada contra o tétano pela vacina dupla bacteriana, tipo adulto (dT), contendo também o toxoide diftérico.3

Em 1999, o Brasil realizou a Campanha Nacional Contra a Gripe  na população acima de 65 anos e incorporou a vacina contra a febre amarela no calendário, além de incluir a vacina contra o Haemophilus influenzae tipo b (Hib).3

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O novo milênio começou com a introdução da vacina tetravalente no calendário (difteria, tétano, coqueluche e Hib), no ano de 2002. Em 2006, foi introduzida no calendário a vacina contra o rotavírus e constatada a eliminação do tétano neonatal como problema de saúde pública no Brasil.3

Em 2008, o Brasil realizou a Campanha Nacional de Vacinação para Eliminação da Rubéola. Três anos depois, a vacinação contra Influenza passou a abranger também os indígenas, gestantes, crianças de 6 meses a 2 anos e trabalhadores da saúde, além dos idosos.3

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No ano de 2012, o calendário passou a incluir a vacina pentavalente (DTP, Hib e hepatite B) e a VIP (pólio com vírus inativado). No ano seguinte, a varicela (catapora) foi incluída na vacina tetra viral (tríplice viral + varicela).3

Já em 2014, outras três vacinas foram introduzidas no calendário: a contra a hepatite A para crianças até 15 meses, a contra o Papiloma Vírus Humano (HPV) para meninas de 9 a 13 anos e a dTpa (tétano, difteria e coqueluche acelular) para gestantes.3

Em 2018, a vacina contra o HPV foi ampliada para meninos de 11 a 15 anos.3

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Em 2020, o Ministério da Saúde passou a recomendar uma segunda dose da vacina contra a febre amarela para crianças de 4 anos.4 Já a vacina contra a influenza passou a ser indicada para adultos a partir dos 55 anos, e não apenas após os 65.5

Por fim, foi incluída a meningocócica ACWY conjugada, que substituiu o reforço da meningocócica C para os adolescentes de 11 e 12 anos de idade, e previne os quatro sorogrupos de meningite bacteriana: A, C, W e Y.6

Em 2021, o grupo prioritário entre os idosos para a vacina da gripe mudou novamente, passando agora a ser a partir dos 60 anos.7

Ainda em 2021, o Ministério da Saúde anunciou a aquisição de doses da vacina hexavalente acelular (contra difteria, tétano, pertussis acelular, inativada contra a poliomielite [VIP], Haemophilus influenzae tipo b e Hepatite B recombinante) em substituição à vacina DTPa para ser utilizada nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIEs) para prematuros extremos e grupos especiais.8

Segundo Juarez, são anos de luta para eliminar uma doença de determinada comunidade, mas o tempo para que ela retorne é expressivamente menor. “Levamos quase 50 anos para eliminar o sarampo e, rapidamente, com baixas coberturas vacinais, tivemos essa volta. A coqueluche é uma doença que está controlada e, sim, pode voltar se as coberturas continuarem baixas como estão. O mesmo ocorre com a rubéola e a pólio, que são doenças erradicadas no Brasil e podem voltar, já que existem de forma endêmica em países como Afeganistão e Paquistão”, disse.

Fique por dentro das vacinas que seu filho precisa tomar

Todos os anos o PNI (Programa Nacional de Imunizações), que disponibiliza a vacinação gratuita para toda a população, divulga o calendário vacinal atualizado para todas as idades.9

Veja agora um mito e uma verdade sobre o assunto:

Mito: doenças erradicadas pela vacinação no país não podem voltar a ter casos, mesmo com baixa imunização

Verdade: as doenças já controladas podem sim voltar. A coqueluche é uma doença que está controlada e, sim, pode voltar se as coberturas continuarem baixas como estão. O mesmo ocorre com a rubéola e a pólio, que são doenças erradicadas no Brasil e podem voltar, já que existem de forma endêmica em países como Afeganistão e Paquistão

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    Referências

    1. Portal UOL.
      O que é a peste bubônica e por que a doença não é mais tão mortal apesar de novos surtos.
      Disponível em: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/bbc/2020/08/13/o-que-e-a-peste-bubonica-e-por-que-a-doenca-nao-e-mais-tao-mortal-apesar-de-novos-surtos.htm. Acesso em: 2021, abril.

    2. Fundação Nacional de Saúde - Ministério da Saúde.
      Cronologia Histórica da Saúde Pública.
      Disponível em: http://www.funasa.gov.br/cronologia-historica-da-saude-publica. Acesso em: 2021, abril.

    3. Fundação Oswaldo Cruz.
      Linha do tempo: vacinação no Brasil.
      Disponível em:https://radis.ensp.fiocruz.br/index.php/home/reportagem/linha-do-tempo-vacinacao-no-brasil. Acesso em: 2021, maio.

    4. Prefeitura Municipal de Uberlândia.
      Crianças precisam receber dose de reforço da Febre Amarela em 2020.
      Disponível em: https://www.uberlandia.mg.gov.br/2020/01/29/criancas-precisam-receber-dose-de-reforco-da-febre-amarela-em-2020/. Acesso em: 2021, maio.

    5. Agência Brasil, Grupo EBC.
      Ministério da Saúde encerra campanha de vacinação contra gripe.
      Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2020-06/ministerio-da-saude-encerra-campanha-de-vacinacao-contra-gripe. Acesso em: 2021, maio.

    6. Governo de Santa Catarina: Novidade: SC oferta vacina meningocócica ACWY nos postos de saúde.
      Disponível em: https://www.saude.sc.gov.br/index.php/noticias-geral/todas-as-noticias/1652-noticias-2020/11295-novidade-sc-oferta-vacina-meningococica-acwy-nos-postos-de-saude. Acesso em: 2021, maio.

    7. Veja Saúde.
      Vacina da gripe: o que muda em 2021.
      Disponível em: https://saude.abril.com.br/medicina/vacina-da-gripe-o-que-muda-em-2021. Acesso em: 2021, maio.

    8. Ministério da Saúde.
      Informe Técnico Vacina Penta Acelular e Vacina Hexa Acelular.
      Disponível em: https://sbim.org.br/images/files/notas-tecnicas/informe-incorporacao-penta-hexa-acelulares-210104.pdf. Acesso em: 2021, maio.

    9. Ministério da Saúde.
      Calendário de Vacinação do Programa Nacional de Imunizações 2020.
      Disponível em: https://www.saude.go.gov.br/files/imunizacao/calendario/Calendario.Nacional.Vacinacao.2020.atualizado.pdf Acesso em: 2021, abril.

    10. OPAS.
      Histórico da pandemia de COVID-19.
      Disponível em: https://www.paho.org/pt/covid19/historico-da-pandemia-covid-19. Acesso em 2021, maio.